sábado, 19 de novembro de 2011

Pedófilo filma menina de 13 anos nua e põe no YouTube


Um dia depois de a Tribuna denunciar o aliciamento de crianças de Juiz de Fora por pedófilos na internet, mais um inquérito foi instaurado, ontem, para apurar novo caso na cidade, o terceiro que chega às autoridades em apenas sete meses. Desta vez, a vítima é uma garota de 13 anos, moradora da Zona Norte, que, após ser aliciada por um adulto no Orkut, site de relacionamentos, foi convencida a se despir diante do computador, sendo filmada por uma webcam. O homem, que aparenta ter 30 anos, gravou um vídeo com cenas da menina nua e, em dezembro de 2007, postou as imagens no YouTube, um site que disponibiliza vídeos em todo o mundo. O material foi assistido pelos colegas da escola particular onde a garota estuda e, provavelmente, por milhares de internautas, levando a família da adolescente a pedir providências ao Ministério Público, para localizar o autor, suspeito de ter feito o mesmo com outras cinco meninas do município.
A delegada Cristiane Maciel, que está substituindo a titular da Delegacia de Menores, Maria Pontes, em férias, afirmou que vai acionar a empresa responsável pelo Orkut, a Google Brasil, por meio de ordem judicial, a fim de rastrear o autor. “Queremos identificá-lo e apreender outros materiais que ele venha a ter em casa. A suspeita é de que tenha feito o mesmo com outras cinco adolescentes da cidade.”
A mãe da adolescente, uma funcionária pública aposentada, foi ouvida na delegacia e levou impressa parte das conversas que o criminoso manteve com a filha. O conteúdo dos diálogos impressiona, principalmente porque o homem ameaça a menina repetidas vezes. “Vamos acabar com isso. Ligue a cam (webcam). Primeiro liga a cam, não quero te ferrar, gatinha, te prometo. Mas se não fizer, te ferro”, afirma o criminoso.
Do outro lado do computador, o homem continua o assédio e manda a menina fechar a porta do quarto, dizendo que é a última vez que a avisará sobre o que é capaz de fazer. “Se não fizer, vou acabar com você.” Em mais uma conversa, o adulto informa que o vídeo com suas imagens nua já está pronto, garantindo que vai lançá-lo no YouTube.
Segundo relato da menina à delegada, diante da ameaça, ela decidiu contar à mãe o que estava acontecendo. Atordoada com a revelação, a funcionária pública tomou o lugar da filha na conversa mantida com o estranho pelo computador. “Pode mandar (o vídeo), vai ficar mais fácil para ser encontrado, já estamos no seu rastro, sem vergonha.” Sem medo de punição, o adulto responde: “Se fosse você, não falaria assim. Dá uma olhadinha, aí”, diz, disponibilizando, logo em seguida, o vídeo da adolescente sem roupa.
No dia seguinte, um amigo da escola da menina avisou à família dela ter visto o vídeo no YouTube. Outro companheiro de escola tentou persuadir o adulto a retirar o vídeo do ar. “Cara, tira isso aí, na moral. O que vai ganhar com isso?” Mais uma pessoa deixou uma mensagem para o pedófilo no Orkut. “Isso aí que você está fazendo, mostrando vídeo de menores na net, é pedofilia”, alerta.
Para a delegada, o caso é mais um exemplo do risco a que meninos e meninas estão expostos ao usarem, de forma negativa, a internet. “Eles não estão sabendo lidar com essa modernidade e acreditam que nada vai acontecer com eles. O caso dessa jovem mostra isso. Ela é uma menina que só sai de casa acompanhada dos pais, mas foi exatamente dentro de casa, onde deveria estar protegida, que acabou sendo exposta para o mundo.”
Lan houses são usadas contra vigilância dos pais O risco não se restringe à residência. Muitas vezes, crianças e adolescentes buscam as lan houses para escapar da vigilância dos pais e manter relacionamentos com estranhos pela internet. Em Juiz de Fora, apesar de existir lei municipal que restringe o acesso de adolescentes desacompanhados dos responsáveis às lan houses, as normas não são cumpridas na maioria das vezes.
Pela legislação, em vigor desde o segundo semestre de 2006, o ingresso de menores de 12 anos nesses estabelecimentos só é permitido “com o acompanhamento de um responsável legal devidamente identificado”. Já garotos entre 12 e 16 anos precisam apresentar uma autorização por escrito dos pais para freqüentar o local. Na prática, não é o que acontece.
Ontem, porém, a Tribuna localizou diversas crianças nessas lojas, a maioria meninos entre 10 e 13 anos. Um deles, um estudante de apenas 12 anos, estava justamente acessando o Orkut, com a ajuda do funcionário da lan house, no momento em que a equipe de reportagem chegou ao local. Ao lado dele, um jovem olhava um site pornográfico. “Entro no Orkut desde os 6 anos, quando ganhei um computador dos meus pais. Minha irmã mais velha me ensinou a usar”, comenta o menino de São Paulo, que passa férias na cidade.
Questionado sobre a presença de menores de idade no estabelecimento, o funcionário tentou justificar: “Conheço a lei. Só permito que as crianças fiquem aqui até às 15h. Já tentei barrá-las, mas os próprios pais reclamam”, garantiu.
Há cerca de dez dias, a proprietária de um desses estabelecimentos, localizado em um bairro de classe média, na Zona Leste da cidade, flagrou uma menina de 14 anos postando fotos suas sem roupa no Orkut. Ela desconfiou da atitude da garota que escolheu o computador no fundo da sala. Ao se aproximar, a comerciante surpreendeu-se com o teor das imagens e decidiu retirar a adolescente da loja. A partir desse episódio, a proprietária passou a exigir a autorização dos responsáveis para a entrada de menores de 14 anos.
‘Sociedade trilha caminho lastimável’ Além da legislação, uma portaria da Vara da Infância e Juventude define horários para a permanência de crianças e adolescentes em lan houses. Pela norma, meninos e meninas entre 10 e 14 anos podem freqüentar estabelecimentos como esse, sem autorização dos pais, até 18h. Entre 15 e 16 anos, o limite passa para 20h e, de 17 a 18, até 22h. O estabelecimento está sujeito a multa de três a 20 salários mínimos. A penalidade dobra nos casos de reincidência.
“Apesar de haver fiscalização rotineira dos estabelecimentos, o Estado não tem estrutura para estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Ontem mesmo, uma lan house foi autuada, porque dois adolescentes estavam lá depois das 23h. É dever da sociedade, do Estado e da família zelar pela criança e pelo adolescente”, afirmou a juíza da Infância e Juventude, Maria Cecília Golner.
Segundo ela, ainda que haja esforço conjunto no combate ao problema, com operações em parceria com a polícia, o controle é difícil, até porque, as formas de acesso à internet são diversas. “Em poucos anos, o acesso à rede pelo celular, que hoje é caro, vai estar muito facilitado.”
A juíza reitera o dever dos pais na educação. “Educar é cansativo e repetitivo, mas o filho deve receber, diuturnamente, instrução dos pais, para inibir algumas tendências e aprimorar as boas”, observa a magistrada. Sobre a denúncia, realizada pela Tribuna, a respeito do leilão da virgindade na internet, feito por meninas da cidade, Maria Cecília é enfática: “Nossa sociedade está trilhando um caminho lastimável”, diz, sugerindo que os casos sejam encaminhados a órgãos, como Ministério da Justiça, Ministério Público e Programa de Combate à Exploração Sexual da Criança e Adolescente (Procesca)

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